Santana do Ipanema: Terra de Escritores











poema da santanense Maria do Socorro Ricardo (1968)


da janela de minha casa admiro os barcos que viajam pelo universo e
o som dos pássaros presos em gaiolas gorjeiam sobre o tempo eterno
como se constroem barcos se constrói vida como se construíssemos
o silêncio do universo em páginas de cadernos de linhas e palavras
estou diante de um sábado de feira em Santana do Ipanema de 1970
onde o mercado divide-se em mercados e cada mercado há um preço
os pés de pessoas vencem distâncias entre velhos e vazios planetas
há frutas na natureza morta desenhada naquela jarra presa à mesa
o vaivém de silêncios entrecortados acordam os pássaros nas gaiolas

estas são minhas águas-panemas em Santana sertão alagoano

são terras parecidas com outras com pedras e água salobra de mar
Santana do Ipanema querida cidade cujas linhas geopolíticas pulam
falam e gritam sobre os acontecimentos neste ano de 1973 e mais
onde pés que caminham nas areias de seu rio com casas às margens
conto em linhas ligeiras passagem de seu povo Santana do Ipanema
ribeirinha cidade de Santana do Ipanema lugar de sol e de serras
distantes lugares de caminhos de pássaros que cantam em gaiolas
as águas-panemas lavam e alimentam os moradores das serras
silencia o universo do alto admiro outra cheia que lava a cidade

ai janela querida que ficou só em Santana do Ipanema pictórica

era maio de 1968 na cidade que me vira caminhar em suas ruas
a parede caiada de minha casa de fazenda admira os pássaros
nuvens formam figuras como se um Monet ou Manet as pintassem
de repente as cores voam e alcançam o universo dos pássaros
as gaiolas presas às paredes brancas revelam os seus cânticos
como se a Terra de Escritores: Santana do Ipanema fosse una
ai janela querida que ficou só em Santana do Ipanema feérica
era maio de 1968 na cidade quando pintei palavras em versos

das janelas de minha querida Santana do Ipanema

o universo me contempla como o contemplo agora
as pedras conversam sobre tempos antigos e mornos
como o limo que as une em desespero absoluto musgo
Santana do Ipanema entre um cinturão de serras secas
colore as ruas com as cores saborosas das lembranças
dos janelões calados e sérios de minha eterna cidade
o som dos pássaros presos em gaiolas fala do universo
agora compreendo as suas ladeiras Santana do Ipanema
a sua música suas feiras espalhadas pelas ruas metálicas
neste poema de maio de 1968 onde as palavras feéricas
lavam as ruas como águas de panemas areentas águas
e os caminhos que se caminham em Santana do Ipanema
são suaves e quentes como dois olhos presos às paredes
os olhos das casas são janelões abertos que falam por si
sobre um tempo que já se foi há meia hora desistiu de ser

numa canoa em preto e branco de madeira

segui a correnteza de ar em leves manobras
e leve deslizava a canoa sobre as cumeeiras
das casas velhas de minha Santana do Ipanema
numa porta um seresteiro afinava o pinho
noutra porta a mulher gorda aprisionava o sol
naquele sobradinho pássaros estavam em gaiolas
agora só ouço o zumbido do universo misterioso
eu me esqueci que fui criança e o mundo era de rosas e mar





Escritora e pesquisadora santanense Maria do Socorro Ricardo






PEQUENOS ESCUROS DE MUSEION 



 Maria do Socorro Ricardo







Estes são os PEQUENOS ESCUROS DE MUSEION 

escritos numa madrugada invernal e silente.



Clio me saíra uma boa contadora de histórias.

De longe surgem as cores altas sobre janelões e portais da Escola de Poesia, que se abre aos alunos seis da matina. A professora Calíope, simpática em um caminhar ligeiro de fábrica, fala sobre a análise como decomposição partida em constitutivos elementos. A professora Clio, historiográfica, difere de Calíope, que é mais eloquência:

O sol sobre a cidade esclareceu os pequenos escuros

Traziam os sonhos nas mãos q’escorriam entre dedos

Os homens que a abandonaram voltam lerdos, escusos

Nos túmulos de açúcar mascavos adormecidos e mudos

Assanhavam-se abelhas, marimbondos, mamangavas

Cuidado povo que ficou pra súbito não ser esmagado

Voam as ideias e os ideais políticos com etílica fome

Um sugere que a rua seja do povo como o céu é do urubu

Outro prefere que o beco seja o abrigo dos sábados

A lua sobre a cidade de repente muda as suas cores

Os homens voltaram cheios de desconfianças, temores

Fazem política num banco de praça habitat de pombos

Soltam bolas de sabão de suas bocas, hálitos de cachaça

Ardem por mudanças ilusórias q’escapam entre os dentes

Veem as estrelas brilharem no firmamento como ontem

Doentes, como são fracos e pobres em seus caminhares

Desejam pra cidade quimeras, ilusões, engodos e mentiras

Derretem-se de inveja porque são miúdos em seus pensares.

Erato e sua lira, Euterpe, alegre e musical. Para se comentar um poema, como esse do enunciado, PEQUENOS ESCUROS DE MUSEION, tem a análise, tem a interpretação, têm os procedimentos básicos, a primeira leitura, a autoria, a data, as indicações bibliográficas, o texto em si, o título, a forma, a época, a leitura de contato, o vocabulário, o gênero, a leitura interna, o estudo do léxico, o assunto, o tema, o subtema, a estrutura do texto, as imagens, os ritmos, a sonoridade. Muda o dia com as tragédias de Melpômene. Polínia, em um canto, sentada entre livros, respira o ar quente aprisionado na cadeia de serras e serrotes que circundam a cidade. Como alguém pode escrever sobre homens que voltaram cheios de desconfianças e temores?

A professora Terpsícore, como musa da dança, diz aos alunos de Poesia que a aula vai começar. E depois que eu fechar a porta da sala, não aceitarei mais abelhas, marimbondos e mamangavas. Terpsícore teve uma infância difícil: trabalhava durante o dia para estudar à noite, sem tempo para risos e brincadeiras. A prima Melpômene olhava-a com cara de tragédia. Talia, cômica, ria de ambas e nem dava importância se as aulas de poesia iam começar. Urânia abraçava as serras das cercanias dizendo que a lua sobre a cidade de repente muda as suas cores.

Euterpe foi morar defronte ao cemitério. Vocês não sabiam?

Que bela voz tinha Calíope!

A amável Erato nunca mais lavou um prato.

Os hinos de Polímnia são plurais.

Os jardins que Talia fazia, faziam brotar flores.

A poeta Melpômene é surpreendente e nunca mais foi ao dentista.



(MARIA DO SOCORRO RICARDO) - história do poema de 1985






Igreja São João Batista 

Patrimônio histórico em ruínas no bairro onde Santana do Ipanema nasceu

GRUPO ESCOLAR PADRE FRANCISCO CORREIA




SANTANA DO IPANEMA: TERRA DE ESCRITORES



Ana Raquel;
Antonio Alves Sobrinho;
Antonio Noya;
Aguinaldo Nepomuceno Marques;
Adelson Miranda;

Bartolomeu Barros;
Benga;
Breno Accioly;
Carlindo de Lira;
Cheops Araújo Malta;
Chico Santos;
Cláudio Campos;
Clerisvaldo B. Chagas;
Darci Araújo de Melo;
Djalma de Melo Carvalho;
Eduardo Bonfin;
Ellen Karla;
Etevaldo Alves Amorim;
Fábio Soares Campos;
Fernando Soares Campos;
Fernando Valões;
Francisco Roberval Ribeiro;
Francisco de Assis Farias (Shyko) Tamanquinho;
Fernando Nepomuceno Filho;
Floro Araújo de Melo;
Genival Barbosa;
Ivone Bulhões;
João Francisco das Chagas Neto;
João Neto Félix Mendes;
João Tertuliano Nepomuceno Agra;
Jorge Vieira;
José Antonio Soares Campos;
José Cândido da Silva;
José de França Filho;
José de Melo Carvalho;
José Geraldo Nepomuceno Marques;
José Malta Fontes Neto;
José Marques de Melo;
José Ormindo;
José Pereira Monteiro;
José Albérico Alécio;
José Avelar Alécio;
José Geraldo Wanderley Marques;
José Peixoto Noya;
Júlio César Lopes Furtado;
Lucia Azevêdo;
Lúcia Nobre;
Luciene Amaral da Silva;
Luís Vilar;
Luiz Antonio de Farias, Capiá;
Luitgarde Cavalcanti Barros;
Manoel Constantino Filho;
Marcello Ricardo Almeida;
Maria Aparecida Silva dos Santos;
Maria Cilene;
Maria do Socorro Ricardo;
Maria Goretti Brandão;

Mozart Brandão Barros;
Maikel Marques;
Manuel Augusto de Azevedo;
Marcello Fausto;
Maria Cícera Gomes;
Maria de Lourdes Nascimento;
Mário Pacífico;

Maryana Damasceno;
Morche Ricardo Almeida;
Oscar Silva;
Pe. José Neto de França;
Pedro Pacífico V. Neto;
Plácido Nunes;
Remi Bastos;
Robério Magalhães;
Rogivaldo Chagas;
Roberto Gonçalves;
Roberval Noia;
Rossana Gaia;
Sebastião Florentino Malta;
Sérgio Soares Campos;
Sílvio Nascimento Melo;
Silvano Gabriel;
Sebastião Florestino Malta;
Selma Campos;
Sérgio Soares Campos;
Sibele Arroxellas;
Silvio Melo;
Suzy Maurício;
Valdemar Lima;
Valter Alves de Oliveira Filho;
Virgilio Wanderley Nepomuceno;

Virgílio Agra;
Tadeu Rocha;
Tobias Medeiros;
Zeneto.






Patronos da ASLCA (Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes)


Cadeira nº 01 – Adelson Isaac de Miranda
Ciências. Dentista. Educador. Figura proeminente na vida comunitária; ostenta o patronato da praça principal do bairro do Monumento.

Cadeira nº 02 – Aderval Wanderley Tenório
Letras. Oratória. Advogado. Atuou no fórum local, militou na política e destacou-se como líder regional.

Cadeira nº 03 – Amabilio Bulhões
Artes. Música. Maestro e compositor. Migrou para o Rio de Janeiro, onde fez escola e formou discípulos.

Cadeira nº 04 – Arsênio Moreira
Ciências. Médico. Chegou à cidade como integrante do Batalhão da Polícia Militar destinado a combater os cangaceiros, permaneceu em Santana do Ipanema, onde clinicou, fez amigos, deixou descendentes.

Cadeira nº 05 – Brenno Accioly
Letras. Ficção. Estudou medicina, optando pela psiquiatria. Produziu obra relevante, escrevendo contos sobre a loucura, em grande parte inspirado em tipos e paisagens da cidade natal.

Cadeira nº 06 – Darras Noya
Ciências. Telecomunicações. Telegrafista e radialista.

Cadeira nº 07 – Domingos Lima
Ciências. Contabilidade. Educador. Fundou um dos primeiros colégios da cidade e incentivou movimentos culturais. Representou a cidade no senado provincial.

Cadeira nº 08 – Enéas Araújo
Letras. Educador. Primeiro professor da cidade; instalou a escola pioneira de alfabetização e educação básica. Foi senador da República.

Cadeira nº 09 – Eraldo Bulhões Barros
Letras. Orador cívico. Advogado. Professor do Ginásio Santana. Co-fundador do segundo jornal da cidade “O Ipanema”.

Cadeira nº 10 – Fernando Medeiros
Letras. Orador sacro. Vigário da matriz.  Publicou artigos no jornal “O Apóstolo” de Penedo sobre a vida santanense.

Cadeira nº 11 – Fernando Nepomuceno Filho
Ciências. Economia. Contabilidade. Professor universitário em São Paulo; é autor de inúmeros livros sobre ciências contábeis.

Cadeira nº 12 – Floro Araújo Melo
Letras. Jornalista. Historiador. Foi autor de livros sobre a história santanense.

Cadeira nº 13 – Francisco José Correia de Albuquerque
Artes.  Orador sacro e artista plástico.  Fundou e construiu a matriz de Senhora Santana,
evangelizando a população indígena remanescente n a região.

Cadeira nº 14 – Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos
Letras. Advogado. Estadista. Foi prefeito municipal e fez carreira no ministério público estadual. Pertenceu aos quadros do IHGAL.

Cadeira nº 15 – Hermidio Firmo de Melo
Artes.  Pintor, escultor, desenhista.  Celebrizou-se pelo presépio que montava cada ano, reproduzindo o nascimento de Cristo num panorama nitidamente sertanejo.

Cadeira nº 16 – Mileno Ferreira da Silva
Letras.   Primeiro diretor do Colégio Estadual Professor Deraldo Campos que ora tem a denominação do patrono desta cadeira Mileno Ferreira da Silva.

Cadeira nº 17 – José Bulhões
Letras. Orador sacro. Vigário da matriz durante vários anos; exerceu pastorado conciliador e construtivo, incentivando o desenvolvimento local.

Cadeira nº 18 – José Cândido da Silva
Artes. Música. Poesia. Destacou-se nacionalmente como autor de letras musicadas por artistas de renome. Foi co-autor com João do Valle da canção Carcará, entoada pelo Grupo Opinião e interpretada por Maria Betânia. Nascido na Puxinanã, mudou-se para Aracaju, vivendo também no Rio de Janeiro.

Cadeira nº 19 – José Lucena Maranhão de Albuquerque
Ciências. Militar. Administrador. Comandante do Batalhão estacionado na cidade para combater o bando de Lampião, beneficiou a cidade com várias inovações.  Foi prefeito municipal das cidades de Santana do Ipanema e Maceió.

Cadeira nº 20 – José Ricardo Sobrinho
Artes. Música. Maestro e compositor, animou a vida cultural da cidade nos bailes, desfiles e procissões.

Cadeira nº 21 – João da Silva Yoyô Filho
Letras. Educador. Foi o primeiro diretor do Ginásio Santana, destacando-se na cidade pela liderança cívica e pela participação cultural.

Cadeira nº 22 – Manuel Vieira de Queiroz
Artes. Música. Teatro. Dirigiu orquestra, compôs dobrados e fundou a primeira companhia teatral da cidade.

Cadeira nº 23 – Maria Audite Vanderlei
Letras. Educadora. Animada cultural. Dirigiu o Grupo Escolar, incentivando novas vocações intelectuais e promovendo campanhas educativas ou movimentos culturais.

Cadeira nº 24 – Miguel Bulhões
Artes. Música. Foi maestro e regente. Letras. Foi jornalista. Exerceu também o comércio.

Cadeira nº 25 – Nilza Nepomuceno Marques
Letras. Bibliotecária. Foi responsável pela instalação da primeira biblioteca pública e do museu histórico municipal.  Animadora cultural, promoveu campanhas beneficentes e  incentivou  o desenvolvimento cultural da cidade.

Cadeira nº 26 – Octavio Cabral
Ciências. Engenheiro agrônomo. Foi responsável pela introdução de novas práticas agrícolas, modernizando a agropecuária municipal.

Cadeira nº 27 – Oscar Silva
Letras.  Escritor.  Romancista e cronista.  Deixou obra emblemática, resgatando momentos relevantes da vida municipal.

Cadeira nº 28 – Tadeu Rocha
Ciências. Geógrafo. Historiador. Professor renomado em colégios e faculdades pernambucanos; exerceu também o jornalismo, pontificando na editoria de cultura do Diário de Pernambuco. Publicou obras memoráveis que conquistaram repercussão regional.

Cadeira nº 29 – Theotônio Ribeiro
Letras. Historiador. Foi vigário da matriz, resgatando os primórdios da nossa vida religiosa, inclusive biografando o fundador da cidade, Padre Francisco Correia.

Cadeira nº 30 – Márcio Lazuerksi Brandão Barros
Letras. Engenheiro. Atuou no DNIT Santana do Ipanema – Antigo DNER. Colaborador literário do Jornal Gazeta de Alagoas no período de 2003 a 2012. Fundador da ASLCA quando da instalação oficial em Maio de 2012.







Capitalismo periférico em Santana do Ipanema-AL


A HISTÓRIA DO CAPITALISMO EM SANTANA

A HISTÓRIA NO SERTÃO EM SANTANA DO IPANEMA

Simbolismos presentes
no acúmulo de capital no Sertão alagoano



Maria do Socorro Ricardo

escritora e pesquisadora




O capitalista visa o aumento do capital. Veio da Europa a história do que se conhece como Capitalismo. Na peça do inglês William Shakespeare, O Mercador de Veneza, outro assunto não trata senão do capitalismo, embora a obra de Shakespeare (autor medieval) não se limite a única temática, diferente não foi na peça levada ao cinema, recentemente, por Al Pacino no papel do capitalista Shylock, Jeremy Iron no papel do mercador Dom Antonio.

A história do capitalismo em Santana do Ipanema, AL, medida as devidas proporções, não se diferenciou da história do capitalismo em quaisquer distâncias geográficas – mesmo o capitalismo tardio. Haverá sempre os simbolismos presentes no acúmulo de capital no Sertão alagoano. Qual a origem do capitalismo? Não difere da chegada de uma mão-de-obra assalariada. Pois antes não se pagava salário como se popularizou, atualmente, na maior parte do mundo. O trabalho compulsório (para gente escravizada) era substituído, com advento do capitalismo, por trabalho mediante salário semanal, quinzenal ou mensal.

Interesse em riquezas sempre existira na história da humanidade. As inúmeras experiências sociais, econômicas e políticas demonstram como uma cidade enriquece, enquanto outras cidades se pauperizam. Quando Shakespeare escreveu a sua peça sobre aquele mercador de Veneza, uma cidade-Estado, não era antiga ainda a invenção do capitalismo. Qual a origem do capitalismo em Santana do Ipanema? Quando os primeiros comerciantes chegaram à cidade sertaneja com intuito em ficarem ricos, implantavam, conscientes ou inconscientemente, o gérmen do capitalismo em Santana. Certamente está presente nos comerciantes de gado, nos proprietários de prédios para aluguéis, naqueles que acumularam e acumulam dinheiro ou o que em dinheiro possa ser transformado. Chegaram a Santana do Ipanema instituições financeiras do porte do Banco do Brasil e outros importantes bancos estaduais e nacionais; o comércio e a indústria, embora insipientes; o exercício do capitalismo nas feiras livres da cidade aos sábados e quartas-feiras que preenche as ruas tendo como ponto de partida a praça defronte a igreja matriz Senhora Sant’Anna, padroeira dos santanenses.

Santana do Ipanema se beneficiou com comércio de grãos (milho, feijão e outros) para o Brasil e estrangeiro, através do mercado pernambucano (Recife) e grandes centros (São Paulo), além do algodão, quando implantou na cidade algumas beneficiadoras do produto (a exemplos dos empreendedores João Azevedo e Benício Silva). Outras atividades industrias que transformavam o milho em farinha (a exemplo de José de França), responsáveis por circulação de bens e produtos como um diferencial na região sertaneja e uma nova configuração à economia santanense.

Havia uma outra Santana, a Santana que mudou os seus hábitos de escambo para uma economia e política locais que até então o povo daquela urbe não havia experimentado, quando os lucros foram transformados em valores monetários. Muitos caminhoneiros levavam os produtos que chegavam à cidade, cujos produtores se utilizavam dos mais diferentes meios de transportes (carro-de-bois, muares, força humana) para trazerem as suas produções agrícolas especialmente à Rua Barão do Rio Branco (maior concentração de armazéns de compradores por metro quadrado), e vendê-las a José Cavalcanti Almeida (Zezito), Idelzuíte Melo, Walter Wanderley, Antonio Francisco Cavalcanti e outros comerciantes.

Nasceu a cidade de Santana do Ipanema por um bairro sem prestígio econômico nos dias atuais, cujo nome se mantém (Bebedor); onde surgiram as primeiras casas, ladeando o rio Ipanema, uma capela para demarcar o domínio católico, algumas bodegas. Estendera-se a cidade no bairro São Pedro, Centro, Monumento, Camoxinga, além de outros com suas características e importância. A cultura urbana poderia ter vivenciado experiências revolucionárias mais frequentes com implantação de um parque industrial; entretanto, com a ineficiência dos critérios estruturais (densidade demográfica, eleitores e outros) e dos critérios funcionais (educação, segurança, saúde, além de outras benfeitorias públicas) satisfatórios à urbe, Santana do Ipanema investia em pequenas farmácias, no mercado de secos e molhados, no comércio de Misael Alves Farias, que vendia sal (vocábulo que deu origem a palavra salário), na casa O Ferrageiro (iniciativa do comerciante Seu Fernando; posteriormente, Bartolomeu Barros). No status quo do estabeleshiment social, político e econômico santanense, se assim pode ser escrito, a cidade viveu momentos de crise; um exemplo da crise foi ter a cidade o título de Capital do Feijão, publicada na revista mais importante (O Cruzeiro) dos anos 1970.

Foi com a Revolução Industrial inglesa, no século XVIII, alguns séculos depois de Shakespeare, que a história pode se chamar de início da Era do Lucro e Acúmulo de Capital. É desta época o livro defensor da livre iniciativa (uma economia sem interferência estatal) do professor Adam Smith, “Riqueza das Nações”. Este sistema econômico chamado capitalismo, desde sua origem, sofrera em 1929, com a Quebra da Bolsa de NY, em 1973, com a crise do petróleo no Oriente Médio, e nesta primeira década do século XXI, com Crise Financeira Internacional. Para Karl Marx, autor de O Capital, além de outras obras filosóficas, o capitalismo estava ligado às condições econômicas e históricas; e os capitalistas aqueles detentores dos meios de produção. A Constituição Federal de 1988 estabelece como um dos direitos fundamentais a propriedade privada; a propriedade privada é uma das principais características do capitalismo. A divisão do trabalho como se conhece hoje – de um lado a mão-de-obra ou a fora de trabalho e de outro os meios de produção que alimentam, que vestem, além de outros – fundamenta-se no sistema capitalista.

Desde a chegada dos antigos sertanistas pernambucanos, advindos de uma das duas, entre as 15, capitanias hereditárias que prosperaram (Pernambuco), encantando-se com as riquezas do Rio São Francisco e beneficiados com a política colonial das sesmarias, estava sendo ocupado o território alagoano. Aqueles colonizadores sertanistas e os primeiros habitantes à beira dos rios (nativos Fulni-Ô, carijós), foram os únicos que testemunharam os irmãos fundarem a Ribeira do Panema com as bênçãos do Pe. Francisco Correia – e todo o mais será especulação das memórias que formam um mosaico histórico de Santana do Ipanema.









"AVE" poema pós-neo/concretista
do santanense Marcello Ricardo Almeida
(publicado no livro "O dente cariado de MonaLisa")







Soneto pós-neo/concretista do alagoano Marcello Ricardo Almeidapublicado no livro “O Dente Cariado de MonaLisa”, p37.