"Casa da Memória" de Santana do Ipanema-AL




LIVROS COMO ALIMENTO AOS OLHOS E PREENCHEDOR DOS SONHOS





Maria do Socorro RicardoEscritora e pesquisadora
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA




Entrevista, por e-mail, da escritora e pesquisadora Maria do Socorro Ricardo ao escritor santanense Djalma de Melo Carvalho, que reside na capital alagoana com ouvidos sobre os acontecimentos político-sociais, econômico-agropecuários e literários em Santana do Ipanema. A mesma Santana que o homenageia inaugurando, em 1976 e reformando em 2003, uma escola de ensino básico no sítio Araçá com seu nome e, em 2007, uma rua no bairro Camoxinga. Escritor convidado a tomar assento no livro “SERTÃO GLOCAL”, organizado por José Marques de Melo e Rossana Gaia, e co-autores Agnaldo Nepomuceno Marques, M. R. Almeida, Luitgarde de Oliveira Cavalcanti Barros, José Geraldo Marques, Lúcia Nobre, Maikel Marques, Virgílio Wanderley Nepomuceno Agra e outros nomes que se expressam em uma literatura dedicada a Santana do Ipanema, daí, “SERTÃO GLOCAL: Um Mar de Ideias Brota às Margens do Ipanema”.

Por meio século, Djalma escuta e recria narrativas cronificando Santana do Ipanema em textos publicados em periódicos, lidos e, agora, reproduzidos na web. É longa a jornada de cinco décadas e um pouco mais de meia dúzia de livros publicados de cujas linhas saltam personagens que se eternizaram nas ruas de Santana. Foi Djalma quem acendeu uma lâmpada sobre a vida de Agenor e Aninha de Bento, Alípio, Duda Bagnane, Pedro Baia, Zé Gancho e Mirindão ao trazê-los para “Festas de Santana” com a bela capa de Paulo Ney. Foi Djalma, em 1977, quem deu voz a essas personagens e as ampliou ao mundo dos livros.

Publicar livros em Santana do Ipanema continua sendo tarefa hercúlea até mesmo aos aposentados do BB. Quando Santana do Ipanema terá uma biblioteca em cada bairro? Cada livro escrito e publicado em Santana do Ipanema acende-se uma luz sobre a cidade e a urbe ficará mais iluminada, mais civilizada, e se fortalecerá em sua economia, e atrairá o turismo, e reivindicará melhorias ao ensino e trabalho ao povo que não precisará continuar migrando. Eu acredito no livro lido e relido, oposto ao livro empoeirado e preso à estante; o livro é o alimento que deverá ocupar os olhos e preencher os sonhos.

1. Quando você escreveu o primeiro texto e disse a si mesmo: “Esse merece ser publicado”?
Resposta – Não teria dito isso, mas a minha primeira crônica, com o título Festa de Santana, foi publicada na Gazeta de Alagoas, em 2 de agosto de 1959, há 50 anos, portanto.

2. Há um livro que não poderá deixar de ser lido nunca, qual e por quê?
Resposta – Se entendi a pergunta, não diria apenas um, mas pelo menos três: Casa Grande & Senzala, Vidas Secas e Menino de Engenho. Sou nordestino e admirador dos seus autores.

3. Qual o papel do escritor em Santana do Ipanema?
Resposta – De minha parte, tenho divulgado, de uma forma ou de outra, a cidade, sua história, seus valores, coisas e gente. Gente que pisou o mesmo chão que pisei.

4. Com quais palavras você definiria você?
Resposta – Um cronista com algum tempo de estrada afora.

5. Alagoas sempre se orgulhou do seu nome no cenário literário mundial. Hoje se vislumbram novos talentos com a força dos antigos?
Resposta – Não vejo nenhum.

6. Eu publiquei que Santana é Terra de Escritores. Quais sugestões você apontaria aos novos escritores santanenses?
Resposta – Continuarem escrevendo, trabalhando o texto, estudando o vernáculo, pesquisando, lendo bons autores.

7. É verdade que os alunos das escolas santanenses estudam a literatura dos escritores de Santana do Ipanema?
Resposta – Soube que é verdade, o que é muito bom, sobretudo quando a cidade conta com mais de 30 escritores produzindo bons textos, escrevendo e publicando livros. Com certeza, uma forma saudável de incentivo e de valorização da gente da terra.

8. Os livreiros, editores, bibliotecas e escolas do ensino básico veem o livro de quais maneiras?
Resposta – Os livreiros e editores, no meu entender, mais pelo lado comercial. Na verdade, o livro é fonte de saber, de cultura, de conhecimento. Bem o disse Martin Claret: “O livro é essencialmente um instrumento cultural de difusão de ideias.” Fiquei satisfeito ao visitar a biblioteca de minha cidade e lá encontrar jovens estudantes debruçados em leitura e pesquisa, certamente orientados por seus professores.

9. A cidade poderia recepcionar os visitantes com placas com nomes dos escritores e ruas e praças que os homenageassem?
Resposta – Minha resposta é afirmativa. Entretanto vejo que o assunto é meio esquecido pelo Executivo e Legislativo de minha cidade. Não sei ao certo, mas me parece que não há rua ou praça na cidade com nome dos escritores Oscar Silva e Tadeu Rocha, que deixaram inestimável legado literário. Acredito que na cidade também não haja nenhuma escola com o nome do Prof. Dr. José Marques de Melo, homem conhecido no Brasil e no mundo, por meio da ciência da comunicação e do Jornalismo, como professor catedrático, como conferencista e como autor de cerca de 50 obras publicadas. A homenagem, no meu entender, deveria ser feita, especialmente, a pessoas vivas. A reivindicação faz-me lembrar, a propósito, o poeta Guilherme de Brito, que disse: “Depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade. Quero preces e nada mais”.

10. O Executivo e o Legislativo esses poderes santanenses têm compromisso com artistas locais?
Resposta – Não sei se eles têm compromisso. Mas, no passado, o prefeito Hélio Cabral foi o grande incentivador da cultura, da arte, um verdadeiro mecenas. Mais recentemente, os prefeitos Dr. Marcos Davi e Dra. Renilde Bulhões também se preocuparam com a produção artística, com a produção literária, ao promoverem lançamentos de livros de escritores santanenses. A prefeita Renilde Bulhões, por exemplo, tem sido muito receptiva a essas demandas.

11. Há uma resistência histórica da mídia em publicar os textos dos poetas e escritores. Santana participa desta mesma resistência ou programas radiofônicos leem poesias, crônicas e contos de seus escritores durante a programação?
Resposta – Não conheço essa resistência da mídia, mas conheço os limitados espaços dos jornais. A rádio Educativa FM, de Maceió, por exemplo, costuma ler, em sua programação diária, trechos de poesias diversas. Vez por outra tomo conhecimento de que crônicas minhas têm sido lidas em programas de rádio em Santana do Ipanema. Acho até que minha cidade é privilegiada nesse particular, uma vez que o Portal Maltanet tem exercido esse papel de forma meritória, elogiosa, com sua coluna Literatura, de incentivo aos escritores da terra. Duas coletâneas já foram editadas com os melhores escritos publicados no Portal, entre crônicas, poesias e contos, e delas participaram mais de 30 autores. O proprietário do Portal, José Malta Fontes Neto, revelou-se um grande empreendedor com seu jornal virtual.

12. Como os escritores devem ser lembrados?
Resposta – Pela leitura dos seus textos e pelos comentários e críticas aos seus livros publicados.

13. Uma academia de letras não existe apenas para os seus participantes; geralmente, as academias de letras são fundadas para divulgação da literatura, para fazerem os escritores chegar às mãos do povo. Quais são as preocupações políticas da agremiação literária da qual você faz parte?
Resposta – Além das atividades específicas, como a de incentivo à produção literária e de promoção de concursos literários, toda academia de letras deve estar em sintonia com o que se passa no seu Estado, no Brasil e no mundo, porque congrega intelectuais de todos os segmentos da sociedade.

14. Alguns escritores ficam em um único livro; outros passam a vida fazendo os seus livros. Como você avalia o fazer livros?
Resposta – Digo sempre que escrevo por diletantismo, tentando driblar a ociosidade tão comum na vida do aposentado. Essa faina me dá satisfação, tanto que acabo de chegar ao sétimo livro publicado, e já há outro em preparo. Para mim, escrever é como coçar: basta começar.

15. Quais os livros que você reler?
Resposta – O escritor alagoano José Maria de Melo, já falecido, costumava reler livros, de preferência livros antigos. Relia-os com outro olhar, com outra reflexão sobre o conteúdo da obra. Confesso que reli poucos: Vidas Secas (Graciliano Ramos), Menino de Engenho (José Lins do Rego), A Bagaceira (José Américo de Almeida), Dom Casmurro (Machado de Assis), e vai por aí. Em minha estante, em contrapartida, há alguns livros que ainda não foram lidos, em razão de falta de tempo e de oportunidade.