Carnaval em Santana do Ipanema



A antiguíssima origem de carnis-valles e as suas variáveis históricas motivam pesquisadores para entender melhor o que é o Carnaval. Vários são os carnavais festejados em muitas partes do mundo, porque o Carnaval é plural embora este substantivo masculino de origem italiana (carnavale) seja singular. Onde surgiu o Carnaval? O Brasil é um dos que mais contribuem para a sua revitalização, e Santana do Ipanema, na Era da Internet, antecipa a Quaresma à maneira de seus brincantes: máscaras e fantasias, uma herança da Renascença, alegorias e simbolismos os mais diversos.

Esta é a pedra fundamental para a criação do Museu do Carnaval Santanense.

1. Quais os cenários e personagens memorizados nos carnavais de sua infância em Santana do Ipanema?

2. De que maneira descreveria os blocos carnavalescos de sua vivência santanense?

3. Do baú de sua memória, como eram os dias de Carnaval no Sertão alagoano (sexta-feira, sábado, domingo, segunda, terça-feira gorda e uma parte da quarta-feira de cinzas)?

4. Lembra-se das marchinhas cantadas pelos santanenses e as suas autorias?

5. E as composições que não saem da lembrança dos carnavalescos?

6. As escolas de samba em Santana do Ipanema permitiam o resgate da memória comunitária? De qual maneira?

7. Tênis Clube Santanense e Sede dos Artistas pontificavam os universos dos foliões santanenses, ou estes clubes não bastavam?

8. O Carnaval de rua que significado possui no panorama dos festejos de Momo em Santana do Ipanema?

9. Quais fatos pitorescos de antigos carnavais santanenses?

10. Se lhe fosse entregue a cidade nesses dias de folia, o Carnaval em Santana do Ipanema seria o quê?

REMI BASTOS: Quanto ao cenário, lembro-me das ruas principais, notadamente a Avenida Dr. Arsênio Moreira e Centro da cidade embelezado com cartazes fixados com pierrôs, colombinas, confetes e bandeirolas multicores suspensas que se estendiam por toda avenida. O Tênis Clube Santanense completamente enfeitado estava sempre disposto a receber seus associados que preenchiam os espaços do salão durante o reinado de Momo. A orquestra tocava frevos rasgados num convite eterno àqueles três dias de folia. Mas, um cenário que permanece cada vez mais vivo em mim, era quando eu subia ao palanque para cantar a marchinha Santana dos Meus Amores. Sobre os personagens, são vários, mas vou me deter em apenas quatro: Sr. Agenor e Albertino Marques montados em emas; Seu Nozinho Falcão usando aquela máscara de todos os anos, era maravilhoso, e Zé Sapo com suas fantasias improvisadas e variadas.

Falar sobre os carnavais de Santana do Ipanema nos anos que regaram a minha juventude é como dissertar sobre mim mesmo. Os carnavais da nossa cidade foram como um perfume inebriante que se dissipou no tempo, mas deixou sua fragrância em nossos sentidos, e onde quer que estejamos, ao lembrá-los, sentiremos que existirá sempre um pierrô e uma colombina jogando confetes e serpentinas no salão da saudade.


Minha infância, o Carnaval em Santana do Ipanema limitava-se apenas a alguns blocos de ruas quase sempre puxados por uma sanfona tipo pé-de-bode com seus complementos de percussão que percorriam as principais ruas da cidade cantando os frevos da época, tais como, "Você pensa que cachaça é água", "As águas vão rolar", entre outras, além das marchinhas tão conhecidas por muitos santanenses, "Olhe o bacalhau para nós é um colosso..."; "E como foi e como é o Urso Preto veio na barca de Noé..." Estas duas últimas eram cantadas durante os três dias de Carnaval, nas ruas e nas casas de familiares e amigos pelos foliões dos Blocos do Bacalhau, de Seu Carola, e do Urso Preto, de Moreninho, Zé Malta, Tacinho e outros. Surgiu nos anos 50, o famoso Bloco do Elefante que ficou marcado pelos foliões santanenses como um grande bloco. Naquela época ainda não existiam o Tênis Clube e a Sede dos Artistas. A Rua Nova ou Benedito Melo era, provavelmente, a rua onde ocorria uma maior concentração de blocos de rua, tais como o "Nega da Costa", "Os Cangaceiros", sem deixar de citar os famosos caretas ou simplesmente, "caretas-macabufas" com seus reilhos que emitiam estalos. Quando alguém os chamava de caretas, eles apenas respondiam por trás daquela máscara tão humilde quanto a sua alegria de brincar, "louuuuuro". Não existia violência.

Quanto aos personagens, lembro-me de Seu Agenor e Albertino em suas emas improvisadas e Seu Nozinho Falcão com sua máscara de todos os anos, os quais, solitariamente, desfilavam pelas ruas da cidade atraindo a meninada. Os carnavais de rua em Santana não iam além das treze horas, também não existia a evasão de blocos para animar os carnavais de outras cidades; tudo era participativo em nossa cidade.

Maria do Socorro Ricardo, o Carnaval de rua em Santana do Ipanema, ao meu modo de ver, teve duas fases, antes e depois da administração do prefeito Henaldo Bulhões Barros.

Antes do prefeito Henaldo Bulhões, os carnavais de ruas em Santana do Ipanema tinham períodos limitados de participações, ou seja, não extravasavam o período das 13 horas. Os foliões se recolhiam às suas casas onde ali davam continuidade aos festejos de Momo ouvindo a eletrola tocar as marchinhas da época ou mesmo alguém com um violão. À noite, não me recordo dos carnavais da nossa cidade na década de 50; sei apenas, conforme enfoquei, anteriormente, que a Rua Nova era foco da passarela dos blocos de rua. No entanto, foi a partir da década de 1960, já com as construções do Tênis e da Sede dos Artistas que o Carnaval de clube em Santana do Ipanema passou a assumir uma nova dimensão. Inúmeros blocos ou pessoas fantasiadas enchiam os espaços do Tênis Clube e da Sede dos Artistas, especialmente o primeiro. A lança perfume extasiava os salões com a sua fragrância envolvendo os foliões nos arremessos dos confetes e serpentinas. No sábado acontecia o Zé Pereira que, normalmente, saía da Sede dos Artistas percorrendo as principais ruas da cidade. As escolas de samba Unidos do Monumento e Juventude no Ritmo despontavam fortalecendo os carnavais de rua.

Todavia, foi na administração do prefeito Henaldo Bulhões (1969) que o carnaval de Santana do Ipanema estendeu as suas asas, notadamente, o Carnaval de rua.

Quanto ao cenário, lembro-me das ruas principais, notadamente, a Avenida Dr. Arsênio Moreira e Centro da cidade embelezado com cartazes fixados com pierrôs, colombinas, confetes e bandeirolas multicores suspensas que se estendiam por toda a avenida. O Tênis Clube Santanense e a Sede dos Artistas completamente enfeitados recebiam seus associados que preenchiam os espaços dos salões durante o reinado de Momo. A orquestra tocava frevos rasgados num convite eterno àqueles três dias de folia.

Mas, um cenário que ainda permanece vivo em mim, Remi Bastos, era quando eu subia ao palco para cantar a marchinha Santana dos Meus Amores, os foliões iam ao delírio. Nessa época, os blocos passaram a desfilar sem horários prévios de parar, prolongando as suas participações no QG do frevo, ali, na Praça Enéias Araújo, no centro da cidade. As escolas de samba tiveram uma participação efetiva, contando inclusive com uma contribuição maior da prefeitura e do comércio local. Inúmeros blocos de ruas surgiram, tais como o Bloco Pau D'arco (25/02/1965), O Bloco dos Piratas, Bloco do Bacurau, Bloco dos Cangaceiros, Furdunço, Bloco da Sogra etc. As ruas da cidade assumiram um cenário carnavalesco mais envolvente e participativo.

Eu limitaria o período de 1965 a 1972 como a fase áurea dos meus carnavais em Santana do Ipanema.

Vivi aquela fase como um folião que chorava a cada quarta-feira de cinzas. Foi nesse período que criei, juntamente com um grande amigo, Benedito Soares (+) o Bloco Pau D’arco, e, foi a partir daí que iniciei as minhas composições carnavalescas, tais como “Oi abra a porta oi nós aqui de novo”; “O Hino da Pitu”; “O Bloco do Brasil Gás”; “Seu Nozinho”; “A Noiva” e a marchinha que tanto me embalou nos carnavais da minha cidade e que até hoje é cantada pelo santanense nos momentos comemorativos e festivos, “Santana dos Meus Amores”. No entanto, outras marchas eram cantadas pelos foliões nos dois maiores clubes: “Você pensa que Cachaça é água”; “Me dar um dinheiro, aí”; “Bandeira Branca”; “É de fazer chorar”; “Índio quer apito”; “Mamãe eu quero”; “É dos carecas que elas gostam mais” e as tão famosas dos carnavais do Brasil, “Vassourinha” e “Cidade Maravilhosa”.

As marchinhas de carnaval que mais fizeram sucessos eu já as citei acima, porém, Santana dos Meus Amores foi a mais executada. Agora, outras composições de minha autoria são interpretadas não só em Santana, mas em outras localidades, inclusive em Maceió, por santanenses.

As escolas de samba “Juventude no Ritmo” liderada por Francisco Farias (Tamanquinho, seu primo) e a “Unidos do Monumento” comandada por Joãozinho de Zé V-8. Foram duas peças importantes que ergueram os carnavais de Santana do Ipanema. A harmonia que essas duas escolas executavam nas suas apresentações, certamente, ficou imortalizada na lembrança de todos os santanenses. No entanto, as mudanças de seus componentes e a falta de apoio local, com certeza foram os principais responsáveis pelo desaparecimento delas. Tudo no momento depende exclusivamente de alguém que tenha a mesma garra do Tamanquinho e do Joãozinho ou que se somem a eles, juntamente com o aval dos nossos gestores, políticos afins e do nosso comércio para que possa trazer de volta aquilo que nunca deveria ter entrado em dormência carnavalesca.

As maiores concentrações de foliões se davam no Tênis Clube e na Sede dos Artistas, o que na época se justificava. Agora, sabendo-se que já não dispomos mais da Sede dos Artistas e considerando-se que a cidade cresceu, assustadoramente, e que já não é mais aquela menina dos nossos sonhos, acredito que se tudo for encarado com a dignidade de um santanense que gosta de se divertir, uma das saídas seria a ampliação dos espaços (dancing) do Tênis Clube Santanense ao invés de se pensar em construir outro clube, não teria sentido.

O carnaval de rua representa a alma do folião. É, aí, que muitos aproveitam o momento para extravasar tudo àquilo que embaraçou os outros meses do ano. A criatividade vai às ruas de forma jocosa e feliz. Os blocos, desde que recebam algum tipo de incentivo, mas, sem a condição de posteriormente animarem outros carnavais que não o nosso, são os responsáveis pelo bom carnaval de nossa cidade e devem ir às ruas.

Sei de vários fatos pitorescos que aconteceram nos carnavais que brinquei em Santana do Ipanema, mas, em razão do espaço vou me limitar a contar apenas um:

Por volta de 1969, no segundo dia de Carnaval, os componentes do bloco, que eu dirigia, Bloco Pau D’arco, devido à injeção etílica do dia anterior, não compareceram na íntegra em minha casa, local da saída do bloco. Apenas três sobreviventes compareceram ao marco zero, eu (Remi), Motorzinho (filho de Seu Conrado) e Gevaldo Vilela (Teresão). Como não apareceu mais ninguém decidimos os três se filiar ao Bloco do Urso que na época era comandado por Valter de Marinheiro. Chegamos ao local da saída do referido bloco, na Movelaria Brasília, vizinha ao Bar da Pitu e a Drogaria dos Pobres, gerenciada por Genival Tenório. Valter nos recebeu com aquela alegria de sempre, porém uma coisa estava retardando a saída do Bloco do Urso. É que o tocador de pé-de-bode estava caído num canto da sala pelo efeito da “cachaça”. Já havia tentado de tudo para despertar a espinha dorsal do bloco e nada do tocador acordar. Foi quando Valter me falou assim: Remi vai até a drogaria e pede ao Genival dez sonrisais. Recado dado, recado cumprido. Cheguei com os efervescentes e entreguei ao Valter de Marinheiro, este por sua vez os despejou em uma lata de óleo, colocou metade de água que a vasilha jogava espuma por todo lado. Peguei o sanfoneiro pelas costas enquanto Valter despejava todo líquido efervescente na boca do suplicante. Não deu outra, dois minutos depois o tocador soltou um arroto semelhante ao apito de trem Maria Fumaça e pôs-se em pé já tocando a marchinha do Bloco do Urso. E, assim, conseguimos por o bloco na rua. (Deixo de relatar o fato na íntegra para não ocupar mito espaço).

Se eu tivesse a cidade e a chave do Carnaval de Santana em minhas mãos, certamente que eu faria um Carnaval aos moldes dos anos 60 e 70. O frevo tomaria o seu posto de antes; retomaria as escolas de samba e os blocos de rua; as ruas como antigamente seriam enfeitadas com amostra próprias da festa de Rei Momo; poria um policiamento ostensivo, contrataria boas orquestras de frevos e impediria, através de um acompanhamento fiscalizador, que aqueles blocos que recebessem incentivos da prefeitura ficariam proibidos de se deslocarem para outros municípios vizinhos. Quem quisesse tocar o seu “axé” que o fizesse distante do nosso Carnaval.