Manifesto do poeta alagoano Marcello Ricardo Almeida
Há quem impeça, em pleno século XXI, uma biblioteca em cada bairro santanense? Iniciarei esta conversa com esta indagação: Há quem impeça, em pleno século XXI, múltiplas bibliotecas em cada município alagoano? Como uma espécie de manifesto do poeta Marcello Ricardo Almeida.
Uma biblioteca chamada semente
Estimular intelectuais alagoanos a manterem ininterruptos contatos com estas sementes (bibliotecas espalhadas em Alagoas. Vamos desenterrar os talentos. Fazeremos os líderes políticos e religiosos acreditarem que o Paraíso é um lugar cheio de bibliotecas[1]). Oxigenando-as com ilustres visitas de alagoanos dramaturgos, contistas, ensaístas, roteiristas, cronistas, juristas, romancistas, artistas plásticos e poetas e outros que honrariam quaisquer partes do mundo.
E Alagoas passe a ter a lembrança desses intelectuais que honrariam quaisquer lugares do mundo; e que eles sejam modelos em lugar da violência e do analfabetismo.
Uma biblioteca não pesa no bolso
Uma biblioteca não pesa no bolso
Caixas de livros com asas
Todos nós temos uma grande dívida com Alagoas. Para solvê-la, muitas caixas de livros ainda terão que ir de mãos em mãos. Uma academia de letras é uma instituição de grande responsabilidade social; a imortalidade de seus acadêmicos não representa um tácito contrato com Deus para imortalizar os intelectuais em suas cadeiras perpétuas.
O pai de Capitu, Machado, co-fundador da primeira de nossas academias de letras, quis moralizar o escritor; as academias de letras depois de Machado de Assis se justificam se concorrer para moralizar a sociedade.
O que atrai? Por que nunca mais se festejou a construção de outras universidades federais? O que atrai? Não se inaugura mais um museu? Aonde anda a multiplicação do número de boas escolas públicas? Continuará utópica a democratização do saber? A imagem de Alagoas não pode continuar sendo as velhas faces da violência (a tragédia) e do analfabetismo (a comédia). Estamos no século XXI. O século da erradicação da miséria humana.
Os nômades no deserto africano não acreditavam no fim da escravidão, mas a escravidão chegou ao fim até mesmo àquelas caravanas de camelos e homens antigos que ainda hoje caminham no Tenerê como fizeram seus antepassados há centenas de anos.
Quem conhece quem, se atravessar à ponte? Não se sabe. Ao menos consegue atravessar a rua? Não, ainda assim; o vizinho da frente desconhece a escritura do vizinho de porta.
E a literatura de quem escreve consegue atravessar calçada? Há quem não tenha certeza. Às vezes, a boca está cheia de um Ginsberg ou de outros intelectuais estrangeiros, ídolos de pano que nunca ouviram falar em Maceió ou em Santana do Ipanema, por exemplo, nem na Serra do Almeida, ou da Maravilha e do Poço onde muito se falou na existência de um cemitério de elefantes.
E os escritores que moram dentro dos livros?
Mas os adoradores de Caramuru salivam ao pronunciar Shakespeare, pronunciar Joyce, pronunciar Kafka, pronunciar Brecht, pronunciar Elliot, cumming, Rimbaud, Whitman; e dizem muitas partes de seus livros numa decoreba típica de quem sofre do Complexo de Caramuru. Eles elogiam Fausto, de Goethe, mas se enojam dos poetas de cordel. Será que escritores de lá têm os nomes dos escritores de cá na ponta da língua?
Quem imortaliza os acadêmicos de uma academia de letras? Seus livros indo de mãos em mãos. O sertão alagoano continua sedento por livros, sedento o litoral. Todas essas academias de letras têm o compromisso em levar os livros de mãos em mãos.
O que impede, em pleno século XXI, bibliotecas em cada município alagoano? Convido vocês a sonharem este sonho e, aos poucos, as duas faces (tragédia e comédia) violência/analfabetismo não mais irão amedrontar as ruas de Maceió ou de Santana do Ipanema, por exemplo. E cada município fará o seu caminho caminhando.
E a infância de "era uma vez"?
O que impede, em pleno século XXI, bibliotecas em cada município alagoano? Convido vocês a sonharem este sonho e, aos poucos, as duas faces (tragédia e comédia) violência/analfabetismo não mais irão amedrontar as ruas de Maceió ou de Santana do Ipanema, por exemplo. E cada município fará o seu caminho caminhando.
E a infância de "era uma vez"?
Algumas crianças descobrem a existência dos livros em A Cachoeira de Paulo Afonso, outras em Grande Sertão: Veredas, ou ainda em Vidas Secas, ou quem sabe em João Urso, ou em Infância. Infância de cada um é cheia de surpresas e cabe, desde ontem, fazer com que essas surpresas (habitantes das bibliotecas) sejam as melhores possíveis.