SANTANA DO IPANEMA-AL NA WEB



Maria do Socorro Ricardoescritora e pesquisadora





Para entender o contexto paradigmático dos meios de comunicações em Santana do Ipanema, AL, durante o século XX, sem pormenorizar os veículos radiofônicos e, igualmente, os jornais com exceção de o Jornal do Sertão, à época de Dr. Marcello Ricardo Almeida, jornalismo diário com notícias sertanejas ao Brasil. No final do século XX, o empreendedorismo de José Malta Neto, em apresentar Santana do Ipanema ao mundo, cria o Portal Maltanet. No princípio do século XXI, outros são os portais criados pelos jornalistas e radialistas Fernando Valões e Roberto, Valter e lideranças jovens santanenses; de Valões e Roberto, o Sertão 24 Horas; de Valter, o Santanoxente; e, ao término desta primeira década, o Alagoasnanet.


Início do século XX. Santana do Ipanema teve muitas faces durante as décadas de existência. Jovens idealistas implantaram nesta cidade sertaneja alagoana veículos de comunicações desde os fatos noticiosos em auto-falantes públicos até a Era da Internet.


Final do século XX. O pioneirismo do jornalista Dr. Marcello Ricardo Almeida e a sua equipe do JS, na década de oitenta, no século passado, fez da Rua Nova a Rua do Jornal do Sertão.


Anos setenta, no século XX, Santana do Ipanema-AL transmitia a sua história diária nas ondas radiofônicas da Correio do Sertão. Palco de grandes talentos da comunicação sertaneja, a exemplo de Chico Soares.


ENTREVISTA AO BLOGUEIRO SANTANENSE SÉRGIO CAMPOS


1. Considerando o JORNAL DO SERTÃO divisor de águas no primeiro e único jornalismo diário em Santana do Ipanema e, na Era da WEB, os portais, sendo pioneiro o Portal Maltanet e o mais recente Alagoasnanet, que surgiu do ideal jovem de Lucas Malta e Elvis Agra. Sérgio Campos, blogueiro, 49 anos e funcionário público estadual, colaborou na construção do Alagoasnanet. Sérgio Campos, como sintetizar a história das comunicações em Santana do Ipanema?

Sérgio Campos – Penso que a grande alavanca para isso veio dos nativos. Os índios são os povos mais receptivos que conheço e, sem dúvida, isso facilitou uma maior comunicação entre outros povos. Com isto, Santana do Ipanema ganhou; e o resultado é esse belo histórico de diversos meios de comunicação ao longo da história: alto-falante no poste à internet. Santana sempre sentiu necessidade de se comunicar com o mundo. Não podemos esquecer que Santana do Ipanema é, em sua origem, uma cidade alagoana miscigenada, como as cidades em geral. Desde a chegada dos primeiros ascendentes portugueses, passando pela fuga de afrodescendentes, aqui, simbolizado por Negro Amaro e, principalmente, os primeiros habitantes, povos Fulni-Ô e Canijós, está sendo criada uma forma diferente de se fazer comunicação em Santana do Ipanema. O dinamismo do jornalista Dr. Marcello Ricardo Almeida, liderando o saudoso Jornal do Sertão, é uma página importante em nossa memória e história santanense.

2. Quais os compromissos sócio-político-econômicos a cada nova página deste livro cordial chamado Santana do Ipanema na web?

Se não contarmos nossa história, os adolescentes, que hoje correm às lan hauses em busca de orkut, twiter, entre outros meios que os atraem na grande rede, acharão que tudo começou com Bill Gates, e esse passa a ser seu único herói. Santana do Ipanema precisa assumir, e a web é mais um meio que surge, seu papel de cidade líder de uma região, mas é necessário que o povo possa despertar para vencer as barreiras dos medos de mudanças, e a internet, hoje, dá esta condição para que as pessoas de todas as condições sociais se comuniquem.

3. Há uma maledicência ao se dizer “somos povo sem história”. Isto cabe bem aos dominadores sobre os dominados. Existe uma preocupação editorial específica em escrever a memória de Santana do Ipanema?

Sempre acreditei que um povo sem história é povo sem identidade. Santana do Ipanema, assim como a maioria das cidades brasileiras, passa pelo problema da falta de interesse em guardar a sua história. Acredito que isto se deva a questões de ordem sócio-política. Quando conseguirmos quebrar esse paradigma que coloca o povo abaixo dos “donos do poder”, tomaremos consciência do quanto é importante que preservemos a nossa memória. Há dois anos construí um blog e quem já teve a oportunidade de visitá-lo sentiu o que nos preocupamos com o cotidiano de nossa gente. Seja na política, cultura, música, ou nas coisas aparentemente banais. Nossa preocupação tem sido sempre com as pessoas.

4. Os estudantes santanenses são beneficiados de que maneira com estes portais santanenses?

Infelizmente, sentimos a ausência dos estudantes nas discussões que envolvem a comunidade como um todo. Não que seja culpa desses jovens, mas há um interesse antigo por parte dos que “mandam” no sistema para que, sobretudo os jovens que demonstram ter mais liberdade, fiquem longe desta discussão. Um dos colaboradores deu uma ideia de levar o site até as escolas públicas, no sentido de realizar mesas-redondas com personagens da nossa história. Acho bastante interessante a ideia, mas ainda há a necessidade de o site alagoasnanet se estruturar para pôr em prática eventos dessa natureza.

5. Como as lideranças político-econômico-religiosas do município veem o trabalho desenvolvido por sua equipe?

Quando se fala em lideranças político-econômicas em nossa cidade, temos que deixar claro que essas se tratam de pequenos clãs. Não é fácil fazer comunicação com independência, de forma imparcial; mas, no geral, vejo que a equipe do Alagoasnanet tem se conduzido de forma a manter a imparcialidade em relação à redação e, com isto, conquista-se o respeito de todas as classes sociais.

6. Santana do Ipanema estendera-se ao mundo com essas possibilidades de se dizer “Santana do Ipanema-AL está com todas as suas faces à mostra” ao chegar à Era da WEB. Fale a respeito de seu sonho em construir este ideal de uma nova Santana na internet.

Não podemos esquecer de que o dinâmico santanense José Malta Neto é o grande timoneiro na comunicação virtual em Santana do Ipanema, Dr. Marcello Ricardo Almeida o antecedera no jornalismo diário publicado no saudoso Jornal do Sertão no início dos anos 1980. Malta Neto, do Maltanet, o primeiro a ousar implantar esse novo sistema no interior de Alagoas; portanto, o maior responsável para que hoje esta cidade sertaneja seja referência em todo o Estado. Assim, como Francisco Soares ousou ao botar pra funcionar o primeiro carro de som da cidade, no início da década de setenta. Com o advento da internet aconteceu o milagre virtual, os santanenses que moravam em outras paragens puderam, de repente, está todos os dias em sua cidade, sem precisar se deslocar. Pelo que ouvi muitos relatarem, em sua maioria no mural de recados do Portal Maltanet, que aquilo era uma forma de amenizar suas saudades da “terrinha”. Portanto, o sonho de uma Santana na internet é que possamos continuar chamando a atenção para que não esqueçamos as nossas raízes, e que a distância quilométrica possa ser substituída por uma presença, ainda que virtual, porém real e enraizada em nossa cultura.

7. Quais as lembranças que você tem de o Jornal do Sertão e a sua influência no jornalismo diário em Santana do Ipanema-AL e região durante a década de oitenta, no século passado?

Ainda guardo na memória o nome enorme pintado no prédio no início da Rua Benedito Melo: JORNAL DO SERTÃO. Este nome estava à vista para todos os que passavam na avenida principal ou nas transversais. Este nome pode ser lido até hoje, mesmo o tempo o tendo descolorido, porém os santanenses genuínos não o esquecem. Sempre fui vidrado em política e futebol, eram os temas que mais me interessavam no Jornal do Sertão. O santanense sempre foi ousado e, assim, foi com o Jornal do Sertão arrojado para seu tempo, um diário de vanguarda. Tenho a satisfação de dizer que estudei com Dr. Marcello Ricardo Almeida, e sempre o vi como um jovem que olhava para frente, acima de tudo que agia e, assim, foi com o Jornal do Sertão. A ousadia é sem dúvida o maior tempero do sucesso.

8. As paralelas se encontrarão no infinito. Para se fazer um paralelo entre o Jornal do Sertão e os portais santanenses na web, o Jornal do Sertão publicava uma tira diária no rodapé reivindicando, por exemplo, uma nova adutora para Santana, perenização do rio Ipanema, mais bibliotecas ao município etc. Quais campanhas vocês costumam fazer?

Sem dúvida, fazer o Jornal do Sertão foi muito mais difícil do que fazer um diário hoje na web, porém quando se fala de prazer, acredito que, aí, os paralelos se unem. A maior campanha que devemos fazer é a de conscientização dos direitos da população, porque os deveres eles já são por demais cobrados e bastante verificar no número de impostos que pagamos. É o dinheiro público que não chega ao seu destino e, com isso, faltam escolas, bibliotecas, creches, merenda escolar, lazer, atendimento hospitalar digno, habitação, entre outros direitos do cidadão que todos os dias lhes são negados.

9. Qual o dia-a-dia na redação de um portal na web?

Acredito que seja como a de qualquer outro meio de comunicação, com uma diferença, na web às vinte e quatro horas terão que ser preenchidas com informações, e para isso é necessário que se forme uma equipe preparada para lidar com a notícia “fresquinha”: esta é que segura a audiência. Com o advento da internet, parece que passamos a viver apenas o agora. O internauta está do outro lado do computador “sedento” de novidade. Se conversarmos com qualquer “dono” de site este irá afirmar que tragédia é que puxa para cima a audiência, mas é necessário atender o outro público, o leitor mais exigente e isto requer tempo e dedicação.

10. Antes, falava-se em alguns escritores santanenses; hoje, o número deles faz de Santana do Ipanema Terra de Escritores. Quais as reclamações, os anseios, as frustrações, os sonhos, as ilusões para se construir, no seu ponto de vista, Santana do Ipanema nesta nova era?

Quando eu era garoto ia ao comércio comprar algumas mercadorias para suprir a mercearia de meu pai que ficava na Praça da Bandeira e, entre os que eu visitava, tinha o armazém de Seu Zé Acioli e, bem ali pertinho ficava a biblioteca Breno Accioly, daí, ao entrar no armazém eu ficava admirando aquele homem no balcão que eu achava tão famoso, afinal, ele só podia ser parente daquele da biblioteca. Não me recordo se algum dia uma das minhas professoras do Grupo Padre Francisco Correia tenha me falado, por exemplo, em Breno Accioly, Oscar Silva ou outro escritor santanense. Então, tudo começa na infância, e para isso necessário se faz que a gente passe a despertar em nossas crianças a vontade de ler, de conhecer nossa história. Minha vontade pela leitura foi despertada em casa e, sem dúvidas, meu irmão Fernando foi um incentivador na leitura; acredito que tanto minha como dos outros irmãos. Com bastante tristeza não observamos na maioria de políticos de nossa geração qualquer preocupação para que esse quadro mude. É só observa o que foi feito em todos esses anos de existência em Santana. Quando minha irmã Selma Campos foi Secretária Municipal de Cultura, a Biblioteca Breno Accioly estava fechada. Ela logo se preocupou em abri-la buscando reequipá-la. De lá pra cá, a única biblioteca aberta em todo o município de Santana do Ipanema foi no Povoado Areias Brancas, a partir de uma ação nossa, com coleta de livros, através de uma rádio comunitária. Resultado, a rádio foi fechada por falta de incentivo, e a biblioteca nunca mais recebeu um livro. Mas, jamais perdi a esperança em ver Santana crescendo, sobretudo no intelecto, pois o maior pecado da humanidade é sem dúvida a ignorância.