Com seu quadro pictórico a cidade tem pinturas justapostas, camada após camada até o pintor se desfazer do que começou a fazer. A primeira pintura para a qual o artista plástico foi contratado fazê-la e não recebeu; pintou outro quadro sobre a pintura original; e, quando não tinha mais tela, outra vez usou a mesma para figurar suas impressões de um monumento que ocupa o velho centro no mercado público. A cidade nunca para de ser construída, reconstruída, de devorar, de ser devorada, conforme escrevera o ensaísta santanense Marcello Ricardo Almeida. A cidade hoje é uma, amanhã será outra, de prédios engolindo prédios, pontes devorando pontes, antropofagicamente, a cidade se autodevora, a cidade é sempre inacabada. E se a cidade para de se devorar, morre por inanição, vira cidade apagada. São os sentimentos da cidade, assim também da arte pictórica. E este olhar sobre a cidade é também um reolhar sobre Santana do Ipanema, a cidade do poeta Marcello Ricardo Almeida.